Abstract |
Essa dissertação tem como principal objetivo analisar os efeitos da passagem de alunos de camadas populares por um projeto de escolarização concebido por uma escola de elite, que desenvolveu uma unidade escolar para atendimento exclusivo e gratuito de moradores de regiões periféricas da cidade de São Paulo. A análise das relações entre família e escola constitui um tema já clássico da Sociologia da Educação, que assume, em um país desigual como o Brasil, uma dimensão ainda mais importante para a compreensão da transmissão de vantagens e desvantagens de uma geração a outra. Nessa pesquisa, tal discussão foi feita por meio da compreensão de diferentes aspectos de um projeto de escolarização atípico, ou seja, uma escola concebida por um colégio de elite para alunos moradores da periferia de São Paulo. Interessamo-nos, principalmente, entender tanto os efeitos concretos, quanto aqueles subjetivos dessa experiência na vida desses jovens estudantes. Analisamos as trajetórias de ex-alunos dessa instituição escolar utilizando a metodologia qualitativa de pesquisa, tendo em vista compreender, por meio da realização de entrevistas semiestruturadas com os ex-alunos e familiares, como a família se relaciona com a escola em uma situação tão pouco comum, além de discutir como esses vêm constituindo, após a saída da instituição, seus projetos de futuro. Também entrevistamos colegas e/ou parentes próximos desses jovens que foram escolarizados em escolas públicas para tecer comparações na tentativa de desvendar a (potencial) influência do Colégio nas trajetórias de seus ex-alunos. Algumas perguntas norteadoras da pesquisa poderiam ser assim sintetizadas: Qual seria a natureza dos conflitos e/ou alianças entre essas duas instâncias socializadoras na formação das trajetórias de vida desses jovens? Como, na constituição dos seus projetos de futuro, sobretudo, no que tange a sua inserção sócio ocupacional, essa relação afetou suas escolhas? Em que consiste e como se expressa a presença familiar nessas trajetórias escolares atípicas? Quais os sentidos da escolarização para esses pais e filhos? Os resultados indicam uma variedade de possibilidades de relação entre família e escola, das mais próximas e/ou concordantes às mais conflituosas e/ou discordantes, embora esses conflitos, em geral, não se concretizassem em ações de confrontação, sobretudo por parte das famílias. Os dados permitiram concluir que essa escola teve destacada influência sobre as trajetórias dos ex-alunos, e que o alcance dessa influência dependeu, em grande medida, dos arranjos possíveis entre família e escola, que variavam desde uma forte integração até a desconexão entre objetivos e modos de conceber o futuro desses jovens por parte dessas duas instâncias socializadoras. |